IMAGENS E ÍCONES JACOBEOS: A MAIS ANTIGA ESCULTURA DE SANTIAGO PEREGRINO NA IGREJA DA LUZ EQUINOCIAL
Da Via da Prata, que liga Sevilha a Santiago de Compostela (e que adentra em território português, em Bragança, regressando a terras de Espanha na fronteira Chaves-Verín) encontramos um tramo ou atalho do Caminho, conhecido como o Caminho Sanabrês, que liga Zamora, passando por várias povoações, incluindo Puebla de Sanabria, localidade que identifica esta rota. Entre Zamora e Puebla de Sanabria, o também apelidado de “Camino Mozárabe” guarda no seu percurso uma das pérolas da pictórica jacobea, nada mais nada menos que a representação pétrea mais antiga de Santiago Peregrino, defendem a grande maioria dos investigadores em arte medieval em geral e do património cultural e religioso dos Caminhos de Santiago em particular. Localizada na velha igreja do Mosteiro de Santa Maria de Tera, datada dos finais do séc. XI, a escultura é das mais conhecidas representações da iconografia de Santiago Maior, apresentando os principais símbolos figurativos do mito jacobeo: a vieira e o bordão. Esta imagem foi muito difundida aquando do Xacobeo de 1993, por ter sido cunhada numa das faces da moeda de cinco pesetas comemorativa desse ano santo compostelano. Esculpida no arco de entrada do velho templo, à esquerda, vislumbramos uma escultura austera, onde só o olhar do Apóstolo impõe respeito, como a avisar-nos que estamos a entrar num local de oração e de contemplação, lembrando a todos os que seguem a rota para Compostela a necessidade de procura de uma interioridade espiritual. Interessante destacar ainda nesta representação a “mão sinistra” de Santiago, como lhe apelidou o investigador em arte e escultura medieval da Universidade do Alabama, John Kitchen Moore, fazendo alusão à expressão latina (e que a língua italiana ainda hoje utiliza) que identifica a nossa mão esquerda e que na escultura nos desafia a suscitar várias interpretações: boas-vindas, aviso, que paremos para visitar a “casa do Senhor”? Mas desta igreja que presta culto à Mártir Santa Marta de Astorga há algo igualmente extraordinário e digno de relatar: o “Milagre” da Luz Equinocial. O padre Julián Acedo Carbajo, pároco desta igreja , falecido em 2004 e lembrado ainda hoje como “amigo de los peregrinos”, descobre no Outono de 1996 um estranho fenómeno: no primeiro dia do equinócio rumo ao fechamento da natureza descobre um raio de luz a entrar pela pequena janela tipicamente românica da abside, mesmo por detrás do altar-mor, e a iluminar directamente a coluna onde se encontra um dos mais icónicos capiteis do conjunto escultórico desta igreja, a de Santa Marta elevada aos céus por dois anjos. Na Primavera do ano seguinte, em 1997, qual não foi o seu espanto quando notou que no equinócio da Primavera, a 21 de Março, a luz voltou a cobrir por breves minutos o referido capitel, “abandonando logo de seguida para novamente regressar no Outono desse mesmo ano. Desde então têm sido muitos os curiosos, entre peregrinos e turistas que anseiam assistir nos equinócios da Primavera e do Outono ao “milagre da luz”, repetindo em Santa Marta de Tera, as romagens que já aconteciam na Igreja de San Juan de Ortega, em Burgos ou na de San Pedro de Etxano, em Olóriz. Uma das curiosidades que vale a pena descobrir numa das rotas mais interessantes dos Caminhos de Santiagos, com a certeza de que seremos bem recebidos pelos olhos sérios mas hospitaleiros do Apóstolo Peregrino.
PARA CONHECER MAIS: https://omeucaminhodesantiago.wordpress.com/
Artur Filipe dos Santos, Docente e Investigador em Comunicação e Património, Investigador do Património Cultural e Religioso dos Caminhos de Santiago. #caminodesantiago #caminhodesantiago #santiagoapostol #patrimoniocultural