“Porque peregrinais”? – Perguntei…
- Artur Filipe dos Santos
- 14 de fev. de 2019
- 2 min de leitura

Desafiado pelos meus amigos e pelos meus alunos tenho vindo a conduzi-los pelo Caminho Português (por Barcelos e por Braga), quando, até 2017, sempre rumei À tumba de Santiago sozinho, encontrando-me com o Mundo que, tal como eu, percorria os caminhos em honra do Apóstolo, pelo seu exemplo e de tantos outros que sempre fizeram da paz e da tolerância mensagens e modos de viver a Humanidade. Não escondo que que as minhas motivações albergavam ainda a ansia de viajar no tempo a bordo das imensas facetas artístico-culturais do Caminho, tal é amalgama de estilos arquitetónicos, escultóricos, plasticidade, património imaterial, gastronomia e ainda, a vontade de uma busca interior, alicerçada pela oportunidade de viver as experiências de centenas de peregrinos, das mais diversas nacionalidades, credos e vontades, com que me fui cruzando nas “rutas xacobeas”.
E então propus as meus alunos a pergunta que dá título a esta publicação: Porque peregrinais? As mesclas de respostas faz-nos dispersar esta pergunta pelo imenso conjunto da Humanidade, mesmo tomando por exemplos épocas históricas distintas e a visão do divino ou a noção de transcêndencia ao longo dos tempos, mesmo antes de surgirem as religiões que conhecemos como monoteístas ou Abraâmicas: o judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.
Peregrinar é uma tradição que faz parte de todas as religiões. Os seres humanos sempre buscaram a sua origem, a sua relação e proximidade com a eternidade, a natureza do divino no ser humano em si e no que o rodeia.
Um lugar onde a fronteira entre a realidade terrena e celestial é mais ténue do que em qualquer outro lugar, um local que fala sobre a presença divina na existência ou um espaço que tem um significado único na vida dos Homens. Assim, o objetivo é o mais importante numa peregrinação; o caminho é apenas um meio para chegar ao local.
Peregrinar não é ter pressa em contar quilómetros ou etapas, é uma busca interior, a busca do divino e da transcendência em nós mesmos, não deixando de explorar o legado de todos os peregrinos que nos antecederam. Nas pedras do Caminho as diferenças culturais, sociais, raça, credo ou outras esbatem-se perante a força de tudo o que une quem caminha por uma fé, ideal ou meta. Mas não deixa de ser, sobretudo, aquilo que um peregrino quiser.
Este texto é uma homenagem aos peregrinos que durante mais de mil anos rumaram a Compostela em honra ao Apóstolo Santiago, por uma fé, pela busca do divino ou da paz interior, pelo exercício da transcendência.
Utreia et Suseia!
Comments