A Origem das famosas Setas Amarelas do Caminho de Santiago
- Artur Filipe dos Santos
- 14 de jul. de 2015
- 2 min de leitura

Mesmo o mais distraído já reparou nas pequenas setas amarelas que se encontram pintadas em muros, candeeiros, postes e até mesmo caixas de eletricidade e que nos indicam, com uma cada vez maior perícia e segurança o caminho certo para Compostela, seja no caminho Francês, Primitivo ou o Português. são as famosas setas amarelas do Caminho de Santiago.
Mas como é que estas “flechas amarillas” aparecem no contexto moderno do “Caminho”. Por muito estranho que possa parecer o surgimento destas nada tem de transcendental, nem sobrenatural ou nem cabe no campo da fé. É antes uma ideia de génio perante a necessidade de sinalizar bem o caminho dos peregrinos.
A história começa de seguinte forma: Em 1983 surge o redescobrimento dos caminhos de Santiago como itinerário cultural no contexto do turismo cultural e religioso europeu e mesmo mundial, muito graças à classificação do “casco histórico” de Santiago de Compostela a Património Mundial no âmbito da UNESCO. As recém-criadas “comunidades autonómicas” (datam de 1978) por onde passam o Caminho Francês (Navarra, Aragão, Astúrias, Castilla, Galiza) uniram esforços para sinalizar os roteiros com azulejos onde se encontrava desenhada a Vieira de Santiago. O problema é que os “peregrinos” (ou digamos turistas) levavam os azulejos como “recuerdo”, escurecendo largos trechos do caminho. Em 1984 o pároco da primeira localidade galega onde entra tanto o caminho francês como primitivo teve uma ideia de génio. Estamos a falar do padre Elias Valiña Sampedro, “O Cura do Cebreiro”, como gostava de ser tratado. Este é o grande impulsionador da dinâmica moderna do Caminho de Santiago, tendo escrito vários livros e guias de auxílio aos peregrinos sobre o Caminho, tendo mesmo obtido o seu doutoramento na Universidade Pontifícia de Salamanca com a tese El Camino de Santiago. Estudio histórico-jurírico”, que defendeu em 1965. Promotor essencial para a melhoria dos traçados do Caminho Francês um dia teve a feliz ideia de pedir uma lata de tinta amarela a uns funcionários de uma obra de melhoramento de uma via em O Cebreiro. Como estavam a usar a tinta amarela para sinalização temporária, o padre Elias aproveitou e junto com outros entusiastas do caminho espalharam a tradição de pintar de amarelo a sinalização que doravante iria ao auxiliar os peregrinos a caminho de Compostela. Este relato é a origem de um mito. A história, contudo, supõe ter contornos diferentes, havendo historiadores que assinalam que as setas amarelas já vinham sendo utilizadas como marcos sinalizadores do Caminho desde 1974, pelas mãos de Andrés Muñoz Garde, no itinerário do Caminho Francês que cruzava Navarra. Apesar deste “reparo” histórico, aquele que foi nomeado por unanimidade comissário do Caminho de Santiago durante o I Encontro Jacobeo celebrado em Compostela em 1985, motivou as várias associações que foram sendo criadas para preservar a memória do Caminho e dinamizar a maior peregrinação do Mundo na atualidade a utilizar as setas amarelas ao longo do caminho, retocando-as de tempos a tempos. Agora já sabe, quando vir muitas setas amarelas (iguais, cuidado com as falsas setas que lhe encaminham para uma qualquer loja, etc), sabe que está a pisar o caminho certo que o(a) levará a Santiago de Compostela. Ultreya!
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