APRESENTO-VOS O PRIMEIRO PEREGRINO DE SANTIAGO: Afonso II O Casto

Na imagem: à esquerda iluminura presente no Livro dos Testamentos, códice encomendado pelo bispo Pelaio de Oviedo, terminado em 1109; à direita estátua de Afonso II presente em Oviedo e datada de 1942. O rei segura um escudo onde se encontra representada a “Cruz de los Ángeles”, cruz-relicário oferecida por Afonso II à Igreja de S. Salvador de Oviedo.

Permitida a transcrição completa e parcial deste artigo con a seguinte cita Santos, Artur Filipe. “Apresento-vos o primeiro peregrino de santiago: Afonso II o Casto”. Porto, 21 de Agosto de 2015. Disponivel em https://goo.gl/9HcKd1. Acedido a…)

A história da descoberta da tumba do Apóstolo é sobejamente conhecida: Teodoro e Atanásio guardam a urna do seu mestre numa pequena tumba e durante séculos a natureza toma conta do lugar, vindo a ficar conhecido como o bosque Libredón. Séculos depois, supõe-se que no ano 814 o ermita Paio descobre no meio do bosque a tumba e avisa a autoridade religiosa da época, o bispo Teodomiro, senhor da diocese de Iria Flavia (atual Padrón). É Teodomiro que, depois de algum tempo a investigar a origem daquele lugar e as personagens que ali repousavam,  assume serem os corpos de Jacobe, filho de Zebedeu, Teodoro e de Atanásio, seus discípulos. Quanto à data da descoberta pelo eremita Paio (ou Pelaio), a mesma parece não ser a correta por que à época Teodomiro ainda não era bispo de Iria, passou a sê-lo (sucedeu a Quendulfo II) apenas em 819. Assim, os investigadores apontam o intervalo entre os anos 820 e 830 para situar o achamento do túmulo.

Tendo chegado à conclusão do que representava a descoberta para o Cristianismo e para o esforço de luta contra os mouros, Teodomiro reúne-se com Afonso II das Astúrias, cognominado “o Casto”.

Afonso II das Astúrias, nascido em 760 em Oviedo é uma personagem marcante na história e não apenas a que diz respeito à Península Ibérica.  Filho do rei Fruela I, povoador das terras da Galiza até ao Rio Minho, a vida de Afonso não foi fácil. Educado para seguir a carreira eclesiástica, Afonso chega pela primeira vez ao trono astur após a morte do rei Silo em  783. Destronado pelo seu tio Mauregato, apenas voltaria ao trono em 791 depois da abdicação de Bermudo I. Afonso II torna-se um monarca importante, mantendo altos contactos com a grande potência europeia daquela época, o rei dos Francos, Carlos Magno.

É Afonso II que muda a capital das Astúrias de Cangas de Onis para a sua cidade natal de Oviedo. E é desta mesma cidade que, avisado pelo bispo Teodomiro da descoberta da tumba do Apóstolo Santiago O Maior, empreende uma viagem até à Galiza para testemunhar tão extraordinário achamento, tornando-se assim o primeiro peregrino a adorar as relíquias do Apóstolo Santo, o primeiro peregrino de Santiago. E o caminho que tomou ficou conhecido para sempre como o primeiro Caminho de Santiago, mais conhecido como o Caminho Primitivo, classificado em 2015 como Património da Humanidade: desde Oviedo até Burón (atual Fonsagrada) e daqui até Lugo e finalmente ao túmulo do Apóstolo.  E logo mandou que se construísse uma ermida para que outros pudessem demandar a Santiago.

Encontra-se sepultado no panteão dos Reis (Capela de Nossa Senhora do Rei Casto cuja construção foi encomendada pelo próprio Afonsso II) da Catedral de San Salvador de Oviedo. A par da capela que mandou construir, Afonso II ofereceu à igreja, em 808, um relicário de ouro e jóias conhecido com a “Cruz de los Ángeles” .