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SANTIAGO: O APÓSTOLO, O PEREGRINO, O MATAMOUROS 

  • Foto do escritor: Artur Filipe dos Santos
    Artur Filipe dos Santos
  • 25 de jul. de 2016
  • 4 min de leitura

Permitido a transcrição completa e parcial deste artigo con a seguinte cita Santos, Artur Filipe. “Santiago: o apóstolo, o peregrino, o mata-mouros. Porto, 25 de Julho de 2016. Disponivel em https://goo.gl/3f12H8. Acedido a…)

Quando se estuda o mito jacobeu e, sobretudo, a iconografia do Apóstolo Santo, deparamo-nos desde logo com três imagens distintas da tradição à volta do culto a Santiago, intrinsecamente ligadas entre si pelo “fio” religioso: Santiago Apóstolo, Santiago Peregrino e Santiago Cavaleiro (ou Matamouros).

A imagem de Apóstolo é a mais antiga e a mais profunda no que à vertente teológica diz respeito. De bíblia na mão, surge-nos com vestes idênticas a outros importantes apóstolos como S. Pedro ou S. Paulo. Mas é provavelmente a sua imagem como “peregrino” aquela que é mais querida por todos os que veneram o discípulo de Jesus mandado martirizar por Herodes Agripa. Datam do período românico as primeiras representações desta iconografia, com o mito de Santiago a ganhar força junto dos caminhantes, como uma espécie de companheiro na longa jornada até Compostela. Não é de estranhar que proliferassem, entre os mestres da pintura e da escultura, imagens do filho de Zebedeu e de Maria Salomé com os símbolos que identificam tanto os peregrinos como a própria tradição jacobeia: a concha de vieira, o bordão e a cabaça, o hábito, a esclavina (capa que protege os ombros da chuva), a escarcela (pequena bolsa de couro que os peregrinos usavam a tiracolo para transportarem os seus pertences, muitas vezes decorada com uma vieira) e o chapéu de abas largas (sombrero). A igreja do mosteiro de Santa Marta de Tera, entre Zamora e Puebla de Sanabria (na Via de La Plata, rota que conecta Córdoba e Sevilha ao noroeste da Península) guarda aquela que é, provavelmente, a imagem mais antiga de Santiago com atributos de peregrino, escultura datada da segunda metade do séc. XII, que se encontra na porta sul deste templo. Ainda em relação à concha de vieira, provavelmente o ícone mais difundido da tradição, a sua utilização é anterior ao culto jacobeu. No claustro do mosteiro de São Domingos de Silos, em Burgos, encontra-se um baixo-relevo de Jesus Cristo (acompanhado pelos discípulos de Emaús) com uma escarcela onde se identifica, perfeitamente, uma concha esculpida, representação talhada por volta de 1100, portanto anterior à escultura de Santa Marta de Tera.

Refira-se ainda que é comum encontrarmos estatuárias onde estão presentes símbolos de ambas as iconografias de Santiago, caso da escultórica que podemos explorar na sala do Cabido da Sé Catedral do Porto, do séc. XVI, de origem flamenga. No campo da pintura, pode-se contemplar, no museu nacional Grão Vasco, em Viseu, uma magnifica obra de Gaspar Vaz, que se encontra num tríptico realizado entre os anos de 1535-1540 originalmente colocado na Igreja de Santiago de Cassurrães, em Mangualde.

Das três principais representações de Santiago aquela que reúne menos “fervor” (sobretudo entre os peregrinos atuais e os membros mais pacifistas da igreja) é a de Santiago Matamouros (ou Cavaleiro como se apelida nos dias de hoje). Surgida através do mito da batalha de Clavijo (em Logroño, na comunidade autónoma de La Rioja), a tradição conta que perante a recusa do rei cristão Ramiro I em aceitar o “tributo das cem donzelas” exigido pelo emir de Córdova Abderramão II, uma contenda eclodiu, levando a uma confrontação em campo de batalha. Assim, a 23 de maio de 844, hostes cristãs e muçulmanas enfrentaram-se num lugar que o mito identifica como “campo de la Matanza”. Os soldados de Abderramão I, em maior número, obrigaram os cristãos a recuar até à colina de Clavijo. Foi então que surgiu, no calor da peleja, Santiago montado a cavalo, vestido de manto branco, empunhando uma espada, cuja lâmina ia decepando os adversários, levando à vitória do exército de Ramiro I.

Encontramos incontáveis representações, entre a escultura e a pintura, de Santiago Cavaleiro, desde logo no interior da Catedral de Santiago de Compostela, no baldaquino do altar-mor, uma imagem curiosa, onde parece que Santiago e o seu cavalo se encontram suspensos no ar, como se desejassem voar pela nave central do templo.

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Santiago Matamouros, escultura presente no baldaquino do altar-mor da Catedral de Santiago de Compostela, foto obtida a 13/07/2023

Outra imagem, também escultórica, podemos encontrá-la no alto do Palácio de Raxoi, o edifício que se encontra em frente à catedral compostelana, na Praça do Obradoiro.

Santiago Matamouros

Escultura de Santiago Matamouros no frontão do Palácio de Raxoi, Praça do Obradoiro, Santiago de Compostela. Foto de Artur Filipe dos Santos, obtida a 24/’5/2017

Em Portugal destaque para o alto-relevo em pedra, possivelmente da primeira metade séc. XIV (apesar de haver fontes que a datam de 1517), em exposição na igreja matriz de Santiago do Cacém.

Santiago Matamouros

Baixo-Relevo de Santiago do Cacém, segundo quartel do século xiv, Igreja Matriz de Santiago do Cacém. © Adelino Chapa

Ainda podemos encontrar mais duas curiosas representações, únicas por sinal: Santiago em Cátedra, que se encontra no camarim do altor-mor da catedral de Santiago. Da autoria do mestre Mateo (o génio-arquiteto que concebeu o pórtico da Glória e o antigo coro pétreo, que agora se guarda no museu da catedral), é a imagem românica (com acrescentos barrocos, como a esclavina de prata, cravejada de joias, bordão e cabaça) na qual os fiéis e peregrinos dão um abraço, uma das tradições mais enraizadas da tradição jacobeia.

Santiago en Cátedra - Catedral de Santiago de Compostela - Artur Filipe dos Santos

Santiago en Cátedra, presente no camarim do altar-mor da Catedral de Santiago de Compostela. Foto de Artur Filipe dos Santos, obtida a 15/07/2021

Junto com Santiago Peregrino e a sua versão Cavaleiro, são as três iconografias que podemos apreciar no extraordinário altar central da catedral, restaurado na sua totalidade em 2020.

A outra singular escultura, conhecida como Santiago del Espaldarazo, encontramos no mosteiro de Las Huelgas, em Burgos.

Santiago del Espaldarazo

Santiago del Espaldarazo, mosteiro de las Huelgas, Burgos. Foto obtida a partir do blogue “Tradición Jacobea”, de Alberto Solana de Quesada: https://albertosolana.wordpress.com/2014/07/24/1-santiago-del-espaldarazo/

É uma escultura que detém a curiosidade de ter braços articulados, em especial o direito, com a mão a envergar uma espada que, segundo a tradição, terá armado vários cavaleiros ao longo dos anos, chegando a coroar alguns reis de Castela.

 
 
 

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